Em uma indústria de bebidas, a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) deveria ser considerada como parte integrante da Produção?

A indústria de bebidas possui uma relação intrínseca com a gestão ambiental, dado o consumo significativo de água e a geração de efluentes durante o processo produtivo. 

Para se ter uma ideia, na produção de cerveja, por exemplo, estima-se que sejam necessários de 3 a 10 litros de água para cada litro de cerveja, dependendo do tamanho da cervejaria e do processo. 

Importância de ETEs eficientes na Indústria de bebidas

No segmento de bebidas, uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) eficiente é um componente crítico para garantir a sustentabilidade, a qualidade do produto e a continuidade das operações.

É a ETE que assegura que os efluentes sejam tratados de acordo com as legislações ambientais vigentes, evitando multas, embargos e danos à reputação da empresa. O tratamento adequado reduz a carga orgânica, os nutrientes e os contaminantes presentes nos efluentes, preservando os corpos hídricos receptores. 

Além disso, o tratamento correto evita interrupções na produção devido a problemas relacionados ao descarte inadequado de resíduos. Sistemas bem projetados e operados ainda podem promover a reutilização de água no processo produtivo, reduzindo custos operacionais e o impacto ambiental do empreendimento.

Relação ETE e produção na indústria de bebidas

A relação entre a ETE e a produção vai além de aspectos ambientais, pois a ETE deve ser considerada como parte integrante do processo produtivo, uma vez que o impacto entre os setores é direto. 

Uma ETE que não opera adequadamente pode interromper a produção, afetando o fornecimento do produto final e gerando atrasos e custos adicionais. Assim, descartes não planejados e não contemplados no projeto da ETE também afetam fortemente a boa operação, podendo reduzir a eficiência a níveis extremamente baixos.

Um dos aspectos mais importantes no tratamento de efluentes para a indústria de bebidas é a utilização de processos anaeróbios. Esses processos são fundamentais para a degradação da matéria orgânica, gerando biogás como subproduto, que pode ser utilizado como fonte de energia renovável. No entanto, para garantir a eficiência e a estabilidade do sistema anaeróbio, é indispensável um bom dimensionamento da ETE e uma gestão e operação rigorosas. 

Um dos maiores riscos associados à gestão inadequada é a perda do lodo anaeróbio, que é a base biológica do processo. Esse lodo, formado por microrganismos especializados, não é fácil de ser reposto rapidamente no reator, o que pode comprometer seriamente o desempenho do tratamento e acarretar custos adicionais para a recuperação do sistema.

Gestão eficiente da ETE = economia, sustentabilidade e segurança para o negócio

A rentabilidade do negócio também é impactada positivamente com o reaproveitamento do biogás e da água tratada, que podem ser empregados em processos como a lavagem de equipamentos e torres de resfriamento. Além disso, essas ações resultam em maiores níveis de sustentabilidade, reduzindo a pegada hídrica e de carbono da empresa.

Por outro lado, uma ETE ineficiente pode causar graves danos ambientais. O descarte inadequado de efluentes pode causar poluição hídrica, afetar ecossistemas aquáticos e comprometer a disponibilidade de água para comunidades locais. Penalidades ambientais podem levar à paralisação das atividades produtivas, causando prejuízos financeiros e perda de mercado. Além disso, casos de contaminação ambiental associados à indústria podem gerar desgaste junto a consumidores, investidores e órgãos reguladores. 

A necessidade de tratamento corretivo e o pagamento de multas e taxas podem elevar significativamente os custos operacionais.

Flotação

Como melhorar a eficiência da ETE?

Para maximizar a eficiência da ETE, é fundamental implementar soluções como o monitoramento contínuo, garantindo que os parâmetros de tratamento estejam dentro dos limites aceitáveis. Investir em equipes ou empresas parceiras qualificadas assegura a operação correta dos sistemas e a identificação rápida de falhas. Tecnologias de ponta, como reatores anaeróbios (de baixa ou alta taxa), biorreatores de membrana (MBR) e sistemas de osmose reversa, melhoram a eficiência do tratamento e permitem a recuperação dos recursos hídricos.

Investir em tecnologias, capacitação e monitoramento contínuo garante não apenas o cumprimento de normas, mas também a perpetuidade e o sucesso do negócio em um mercado cada vez mais exigente. 

Ter uma ETE eficiente é mais do que uma exigência legal para a indústria de bebidas, é uma ferramenta estratégica para a sustentabilidade, a competitividade e a proteção ambiental. Portanto, em minha opinião, todos os gestores deveriam, sim, considerar a ETE como parte da linha de produção.

 

Por Otávio Almeida – Diretor de Novos Negócios no Grupo EP – EP Engenharia do Processo

Engenheiro graduado pela UNESP/SP, com pós-graduação em Gestão e Tecnologias Ambientais pela Universidade de São Paulo (USP), Otávio Almeida possui uma trajetória marcada por cases de sucesso em soluções ambientais inteligentes, reciclagem de água e sistemas de tratamento de efluentes para indústrias de diversos segmentos.

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